segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CICLO SOCIAL DE PROUT - 25/11 - Grupo de estudos e Vivências PROUT_USP

CICLO SOCIAL DE PROUT
Pelo dr. Johan Galtung


O dr. Johan Galtung, ganhador do Prêmio da Vivência Correta (Right Livelihood Award), é professor de Estudos da Paz na Universidade Européia da Paz e em diversas outras. É diretor de TRANSCEND (uma rede para a paz e o desenvolvimento) e autor de mais de 70 livros e centenas de artigos.


P.R. Sarkar foi um grande pensador e grande praticante. Escolhi homenageá-lo como destacado macro-historiador, enfocando sua Teoria do Ciclo Social e suas implicações para a unidade e a paz mundial... Porém, devido ao etnocentrismo dos Estados Unidos e da Europa, talvez Sarkar não venha a ser citado em livros, textos ou cursos sobre a civilização.
Em primeiro lugar, o Ocidente é auto-referente com relação às questões do Ocidente. Sarkar vai direto ao cerne da nossa história com um esquema muito simples e amplamente universal, sendo, portanto, claramente inspirado muito mais na sociedade e na história indiana do que na nosso. Ele vira o mundo de cabeça para baixo: enquanto se espera que a Índia seja reconhecida, dissecada e compreendida com base em nossos paradigmas, ele nos compreende a partir de seus paradigmas. No trabalho de Sarkar, o Ocidente não está mais intelectualmente no começando.
E segundo lugar, Sarkar chega a conclusões concretas a partir de sua macro-história e da sua base filosófica: Prout, a teoria da Utilização Progressiva. Esta é a teoria de um sistema econômico e político independente, que é inspirado na espiritualidade e não na matéria... Nesse sistema, não é o dinheiro que está mais no comando, nem tampouco os economistas. A meta não é o "crescimento econômico" e nem a acumulação de riqueza, mas um verdadeiro crescimento humano que satisfaça as necessidades básicas e que seja coroado por um crescimento espiritual ilimitado. Isto em si já desqualifica Sarkar como utópico, como uma pessoa a ser marginalizada. E há muito mais para dizer...
A história é então vista como uma espiral, e também é a responsável por anunciar aos grupos no comando que "acabou o seu tempo", e ao grupo seguinte, "é sua vez". Quando qualquer grupo volta ao poder, a sociedade não é mais a mesma em sua totalidade, daí a espiral e não o círculo.
Claro que isso é um reflexo dos ciclos de reencarnação dos indivíduos. A visão não-ocidental tende a ser cíclica; somente o Ocidente constrói seu projeto linearmente com a promessa de um , e até mesmo iminente, Estado Definitivo. Isto é também o que torna o Ocidente tão perigoso, por que algumas pessoas passam a crer que o Estado Definitivo está ali na esquina, e assim nasce a tradição utópica. O resultado foi Stálin e Hitler e sua luta para criar um perfeito Estado Definitivo no século passado. Essa luta foi vencida por alguém que clamava pelo "fim da história", com mercados globalizados e eleições livres e justas. Em breve isso se provará igualmente ilusório...
Contudo, a história recente do mundo produziu fenômenos com grande potencial sincronizador, além da comunicação. Um deles foi o colonialismo... Esperava-se que as colônias aceitassem ser subjugadas, doutrinadas e exploradas, tanto pelas potências colonizadoras como por suas elites colaboradoras. O fato é que as pessoas reagiram, com sentimento de vingança, e na maioria das colônias (como sarkar previu) os militares assumiram o poder, para igualmente controlar suas próprias forças populistas...
Para os mercantilistas, "liberdade" é como dizem os americanos, com sua subjacente e permanente mentalidade mercantilista: "a liberdade para utilizar a propriedade privada a fim de adquirir mais propriedade privada". Eles exigem sua fatia do ciclo, os ocidentais entre eles, com a usual falta de realismo, sempre. Há apenas dois sistemas econômicos, eles proclamaram, o capitalismo e o socialismo; e se o socialismo desmoronou, portanto, o capitalismo prevalecerá para sempre.
A teoria de Sarkar faria outra previsão: haverá uma revolta popular quando a exploração for longe demais. Mas ainda, dada a sincronização global das fases, a revolta, violente ou não, poderá vir a ser de caráter global. Quem viver verá. Mas a teoria de Sarkar tem evidentemente algum poder explanatório. Num certo sentido, não soa estranho dizer que "a compreensão indiana do mundo é muito mais antiga..."
A mensagem de Sarkar é muito clara: as elites não podem pisotear as pessoas sem que estas mais cedo ou mais tarde reajam; e elas vêem as eleições na democracia essencialmente comum revezamento entre as elites.
Existe saída para os ciclos de Sarkar? Claro que existe. Sarkar tem uma fórmula: combine a coragem dos guerreiros, a criatividade dos intelectuais, a diligência dos comerciantes e o senso de humildade e simplicidade do povo em uma só pessoa. Os Sadvipras cuidarão para que , nesse processo, cada elite governante dê sua contribuição positiva... e para que ela ceda espaço a seus sucessores sempre que os aspectos negativos de sua classe se tornarem predominantes, como por exemplo a tendência ao autoritarismo( nos guerreiros), o ritualismo ( nos intelectuais) e a exploração( nos capitalistas). Sem esquecer da tendência negativa comum a todos os grupos governantes: a arrogância. Os Sadvipras, semelhantes aos boddhisatvas de algumas ramificações do budismo, têm o compromisso de assumir essa função.

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