sábado, 12 de maio de 2012

Materialismo Dialético e Democracia

Fonte: Mayajit (prout_br)


por Prabhat Rainjan Sarkar



O progresso social é uma mescla de três aspectos:  tese, antítese e síntese. Quando uma determinada teoria ou tese perde a capacidade e o poder de promover o bem-estar coletivo, cria-se uma antítese em oposição à teoria predominante. Em consequência de choques e ajustes entre essas duas forças opostas, uma resultante acontece, e esta resultante é chamada de síntese. Seria verdade que o bem-estar da sociedade só é possível na fase de síntese? Quando aqueles que têm o dever e a responsabilidade de promover o bem-estar negligenciam as minorias sociais ou as pessoas em geral, a síntese de uma determinada era transforma-se na tese da próxima era.

Os princípios subjacentes relevantes para a questão da justiça social são: o universo é um fenômeno em movimento, como um panorama transitório, tudo neste mundo empírico tem suas raízes na relatividade, e tudo está se movendo no âmbito de tempo, espaço e pessoa.



Na etapa da síntese, uma teoria social, econômica e política pode ser benéfica em um determinado lugar ou a um grupo particular, mas isso não garante que a mesma teoria seja igualmente benéfica se houver mudanças de tempo, espaço e pessoa. Em circunstâncias diferentes, as pessoas oprimidas, que levam uma vida de desconforto e abandono, sendo vítimas da injustiça social, propõem uma antítese para a síntese desse período. A maioria numérica e física não é o único pré-requisitos para o surgimento de uma antítese. Se os oprimidos são um grupo de intelectuais, não importa o quão pouco sejam, eles podem propor uma antítese. Logo que a antítese é criada, a ideologia anterior deixa de ser uma síntese. Torna-se a tese na próxima fase. Então, na segunda fase, uma antítese emerge novamente contra essa tese. Nesta fase, enquanto uma síntese não surge, uma luta descontrolada se desenvolve. Teoricamente, a síntese não é o fator absoluto, o confronto final ou a última palavra, porque a  tese, a antítese e a síntese acontecem dentro dos limites da relatividade.

De acordo com PROUT, as mudanças ocorrem em uma ordem cíclica. Em algumas eras do passado, as massas trabalhadoras eram predominante. Naqueles tempos não havia nenhuma sociedade humana ou civilização, e até mesmo o conceito de família era quase inexistente. Esse período foi chamado de era Shudra. Após essa era Shudra, veio a era Ksatriya, ou a era dos guerreiros. Como resultado de confrontos e ajustes, o alvorecer da era Vipra se tornou visível no horizonte do ciclo social. Quando os guerreiros, aqueles com uma força hercúlea, passaram a ignorar e ferir os sentimentos dos Vipras, ou intelectuais, os Vipras criaram uma antítese contra a tese da era Ksatriya de vingança. Mas a saga de exploração e sofrimento não chegou ao fim. Quando os Vipras iniciaram uma ofensiva contra a classe burguesa, a burguesia insatisfeita e descontente lançou uma cruzada contra a tese da era Vipra. Quando as classes insatisfeitas começaram a se envolver em exploração, especulação mercadológicas e mercado negro, prosperando com a exploração dos outros, então, as pessoas exploradas, oprimidas e rebeldes começaram uma sangrenta revolução para derrubar a classe burguesa.

Tal movimento do ciclo social nunca terminará, nunca vai parar. Sadvipras ou revolucionários espirituais vão inspirar e mobilizar o espírito de uma cruzada contra a injustiça humana, contra  a barbárie, contra a violência e ajudar a acelerar a velocidade do movimento social antitético. Depois, durante a fase da síntese, eles vão ter a liderança da sociedade em suas próprias mãos. Se ajustes apropriados forem mantidos, de acordo com tempo, espaço e pessoa, a era da síntese inspirada pelos Sadvipras será permanente. Em uma sociedade governada e administrada por esses Sadvipras, a estrutura da síntese social permanecerá intacta, mesmo que diferentes eras se sucedam. A era Shudra virá, mas não haverá exploração pelos Shudras. A era Ksatriya virá, mas a exploração pelos Ksatriyas não será possível por causa da ordem sintética que prevalecerá na sociedade.

Somente os Sadvipras podem manter o ajuste constante, de acordo com tempo, espaço e pessoa. Aqueles que propagam filosofias materialistas, e não estão conscientes da moral e da espiritualidade, são incapazes de manter tais ajustes adequados, para todas as mudanças que acontecem dentro do âmbito da relatividade. Aqueles que aceitaram a Entidade Suprema como sua meta - aqueles que realmente acreditam no humanismo universal e aplicam o universalismo de forma plena  - são os únicos capazes de manter ajustes corretos, porque sob a influência de um ideal espiritual seu temperamento se torna grandioso ue m e de acordo com ligenciam e benevolente. Devido ao seu idealismo benevolente e ao desenvolvimento mental, eles naturalmente olham para tudo com amor e afeição. Eles nunca podem cometer injustiça em qualquer época ou a qualquer indivíduo. A sociedade Sadvipra é tanto um desejo como uma demanda da humanidade oprimida; o materialismo dialético é fundamentalmente errôneo e imperfeito.

Em todos os países e em todos os momentos, os Sadvipras devem aguardar até que surja uma antítese à tese de sua era. Enquanto uma antítese não aparecer, os Sadvipras vão trabalhar em todo o mundo para criar uma base psicológica para criar a antítese da próxima fase. No momento em que a aurora auspiciosa do renascimento ou da síntese surgir, os Sadvipras tomarão as rédeas da liderança da sociedade em suas próprias mãos.

O bem-estar da sociedade não é possível através do materialismo dialético. O materialismo dialético pode ser adequado e apropriado para o bem-estar da sociedade humana em uma certa era, mas na era seguinte, ele pode vir a ser um instrumento brutal de exploração e destruição. Prout é a única solução, pois reconhece e aceita as mudanças de tempo, espaço e pessoa. Vai continuar mantendo os ajustes. As políticas e os programas de Prout formulados para uma determinada época, para um determinado lugar e para determinadas pessoas não permanecerão  fixos quando houver novas condições e se ajustarão de acordo com as mudanças de tempo, espaço e pessoa. Esses são os princípios fundamentais defendidos por Prout. Assim, o materialismo dialético não pode fazer nenhum bem para a sociedade humana e só pode ter alguma utilidade para uma determinada era, ou para determinadas pessoas.

Vamos agora discutir a democracia. Diz-se que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Após a era Shudra, o poder ficou nas mãos dos chefes de tribos. Com o decorrer do tempo, os líderes de clãs se tornaram reis feudais. A teoria da democracia nasceu de sentimentos de revolta contra a tirania da monarquia exercida por esses reis feudais. A história da democracia é muito antiga. A História ensina-nos que ela se originou durante a dinastia Licchavii, na Índia antiga. Sendo tão antiga, não é de se estranhar que a democracia tenha alguns deficiências.

Vamos agora analisar a afirmação: "A democracia é o governo do povo". Será que em uma democracia as pessoas têm a educação e a consciência necessária para escolher o que é certo ou o que é errado, o que devem fazer ou o que não devem fazer? Será que a capacidade de compreensão e discernimento viria após a pessoa atingir uma certa idade? Seria a idade um critério válido para a sabedoria e a educação? Infelizmente, isso é o que é aceito! Se aqueles que falam sobre o grande sistema democrático lessem a história da Dinastia de Licchavii iriam entender que naquela época nem todos tinham o direito ao voto. Apenas os líderes Licchavii, e não as pessoas em geral, podiam exercer e usufruir do direito ao voto.

A democracia só pode ser eficaz e proveitosa onde não há nenhum tipo de exploração. Onde todas as pessoas têm certos requisitos mínimos da vida assegurados. Pode haver um pequeno ajuste nesses requisitos mínimos, para se adequar às diferenças de tempo, espaço e pessoa. O povo de Caxemira pode precisar de uma grande quantidade de agasalhos. Portanto, eles devem usufurir de mais roupas de lã do que o povo de Bihar. Os requisitos mínimos variam de acordo com as mudança de época e tempo. Nos tempos antigos, as pessoas ficavam satisfeitas com um dhoti, uma camisa e um par de sandálias de madeira. Não só isso, elas nem sequer sentiam a necessidade de sapatos. Mas hoje em dia um terno pode ser uma necessidade. Antigamente, as pessoas viajavam longas distâncias a pé, mas hoje uma motocicleta ou um automóvel tornou-se essencial.

As necessidades mínimas devem ser fornecidas a cada indivíduo. Não há limite para as necessidades mínimas. Cada sociedade progressista deve ter em mente que os requisitos mínimos vão continuar aumentando dia após dia. Em um futuro não muito distante, virá o dia em que cada indivíduo vai adquirir uma nave. Então, por exemplo, será muito comum que a casa dos pais sejam neste planeta e a casa dos sogros seja em Vênus.

O sistema social que virá a existir, mantendo o paralelismo e a harmonia com tempo, espaço e pessoa, será chamado de socialismo progressista.  Prout é o socialismo progressista. A sociedade terá de tomar medidas para assegurar o incremento no padrão de vida de cada indivíduo. Quando o socialismo progressista for estabelecido no âmbito da democracia, então, a democracia será bem sucedida. Caso contrário, o governo do povo, pelo povo e para o povo só vai significar o governo dos tolos, por tolos e para os tolos.

Educação das massas é uma das necessidades básicas para que a democracia seja bem sucedida e eficaz. Em alguns casos, até mesmo as pessoas instruídas abusam do direito ao  voto. Pessoas votam por indução e aliciamento de líderes locais mal-intencionados. Fazer propaganda de boca-de-urna, tratando o povo como gado, não é sensato. Não seria isto uma farsa em nome da democracia? Assim, a disseminação da educação e do conhecimento adequado é essencial. Educação não significa apenas a alfabetização ou o conhecimento literário. Na minha opinião, a verdadeira educação significa o conhecimento adequado e apropriado, associado com poder de compreensão. Em outras palavras, a educação deve transmitir a consciência de quem eu sou e o que eu deveria fazer. O pleno conhecimento sobre essas coisas é o que significa educação. Simplesmente ter o conhecimento do alfabeto não é educação.

Alfabetização certamente serve para alguma coisa. Não estou dizendo que a alfabetização seja inútil e sem importância. Em alguns países da América do Sul, apenas as pessoas alfabetizadas desfrutam do direito ao voto. Os partidos políticos nesses países lançam campanhas de alfabetização e as pessoas naturalmente dão seu voto para os partidos que os alfabetizaram. Assim, o governo fica  liberado da responsabilidade e das despesas com a educação. Mas esse sistema não pode servir ao propósito que se pretende. Primeiro, não é razoável pensar que a mera alfabetização vai despertar sabedoria plena sobre o que fazer e o que não fazer. Segundo, se a responsabilidade sobre a alfabetização for entregue aos partidos políticos, em seguida, os partidos políticos vão espalhar sua propaganda partidária entre as pessoas. As pessoas vão se tornar intelectualmente débeis, e essa maldição vai prejudicar o seu tirocínio e discernimento. No entanto, a educação é de suma importância. Sem educação, a democracia nunca será bem sucedida.

A moralidade é o segundo fator fundamental para o sucesso da democracia. As pessoas vendem seus votos por falta de moralidade. Em alguns países no mundo, os votos são comprados e vendidos. Podemos dizer que são democracias? Não, isso é uma farsa? A democracia não pode obter sucesso a menos que 51% da população sigam os princípios de moralidade criteriosamente. Sempre que as pessoas corruptas e imorais forem a maioria, os líderes, inevitavelmente, serão eleitos entre essas pessoas imorais.

Hoje em dia existem muitos obstáculos no caminho da moralidade. A civilização urbana é uma das principais razões para a degeneração moral, porque muitas pessoas são obrigadas a viver em lugares congestionados e inabitáveisriosamenteão pode servir o. Este é um inimigo da moralidade na vida individual. A vida no interior por um tempo é essencial para o cultivo e o desenvolvimento da moralidade. Nos lugares onde a população é muito densa, o leite e os legumes são escassos, e estes ítens são indispensáveis ​​para uma subsistência saudável. Quando a demanda é maior do que a oferta, a adulteração fica sem controle. Para suprir o déficit na oferta de leite, as pessoas misturam água ao leite. Para atender à demanda por diamantes, diamantes falsos são produzidos, porque a demanda é maior do que a oferta. As cidades grandes tornam-se antros de corrupção por causa de elementos anti-sociais, mas esse tipo de coisa geralmente não se vê no interior. Nas cidades pequenas, todo mundo conhece todo mundo. Todo mundo sabe de que forma seus vizinhos obtém seu sustento. Mas, mesmo que uma pessoa viva vinte anos numa cidade grande, raramente vai conhecer seus vizinhos. As pessoas nem sequer sabem que existem muitos vigaristas ocultos em seu meio social. No entanto, o slogan "Volte para o interior", por si só, não será suficiente. A vida da cidade tem um grande atrativo para as pessoas em geral, porque as pessoas vão para as cidades para obter seu sustento. Para interromper esse fluxo, os intelectuais e outras pessoas terão de cuidar de sua subsistência no interior. O fornecimento de eletricidade barata e a expansão de indústrias no interior são uma necessidade primordial hoje. Por indústrias caseiras não me refiro à indústria artesal primitiva. Indústrias caseiras devem ser unidades eficientes, modernas e mecanizadas. Do ponto de vista econômico, a descentralização é uma necessidade vital. Com exceção das grandes indústrias e dos escritórios governamentais essenciais, todas as outras indústrias deveriam ser deslocadas para o interior. Para interromper a superpopulação nas cidades, essa é a única abordagem viável. As cidades pequenas não são congestionadas, portanto, as pessoas anti-sociais não serão capazes de se esconder por lá. Se elas tentarem, a polícia poderá facilmente encontrá-las.

Em uma sociedade democrática, a imoralidade é um problema difícil de resolver. Algumas pessoas dizem que se as sementes de mostarda forem polvilhadas sobre qualquer pessoa possuída por um demônio, ele se afastará. Mas se o demônio estiver na semente de mostarda, não haverá a menor chance de escapar do demônio. Da mesma forma, o demônio da imoralidade está oculto no sistema democrático de hoje. A democracia induz a sentimentos como provincianismo, comunalismo, castas, etc, que são desprovidos de moralidade. Suponhamos que uma pessoa A de determinado distrito eleitoral  represente uma comunidade, pelo sistema majoritário, mas B, C e D sejam os representantes capazes e competentes. Em tais circunstâncias, um representante certamente explorará a maioria da comunidade por meio de castas ou sentimentos tacanhos, a fim de ganhar as eleições. Tais atividades anti-sociais criam desconfiança na mente das pessoas e, portanto, golpeiam de forma impressionante sua moralidade. Em alguns sistemas democráticos, a discriminação social torna-se tão desenfreada, que diferentes grupos e partidos encontram  ampla margem para propagar e difundir idéias errôneas e sentimentos fissíparos. Assim, vemos que a moralidade – que deve ser o fator básico para que a democracia marche de forma vitoriosa – está desprotegida. Assim, em uma democracia, algumas pessoas aceitam o sistema de castas e tiram o máximo proveito dele. Os partidos políticos também nomeam as pessoas que pertencem às comunidades majoritárias como seus representantes. As massas, por serem incultas, não podem ver o que está por trás do jogo.

Em terceiro lugar, a consciência social, econômica e política também é indispensável para o sucesso da democracia. Mesmo as pessoas instruídas podem ser induzidas por políticos astutos e ardilosos, se não estiverem suficientemente familiarizadas com as questões sociais, econômicas e políticas. A democracia só pode obter êxito quando as pessoas cultivam esses três tipos de consciência. Sem essa consciência, o bem-estar da sociedade não é factível, nem na teoria nem na prática. Intelectuais, portanto, nunca deve encorajar ideias irrealistas desse tipo.

Mas mesmo que esses três requisitos para o sucesso da democracia sejam atendidos, o verdadeiro bem-estar da sociedade não será conseguido pelo materialismo dialético ou pela democracia. A única solução é uma ditadura esclarecida e benevolente - que é uma ditadura moral e espiritualmente consciente. Os éticos, embora sendo uma minoria de hoje, não têm motivos para se preocupar. Assim que a sociedade for conduzida por pessoas intelectual e intuitivamente desenvolvidas, certamente não haverá chance de exploração e injustiça. Agora, uma pergunta pode surgir. Se em uma nação ou país todos desfrutam dos direitos humanos, por que uma pessoa em particular teria o direito ao voto, e outros não? Afinal de contas, este mundo é uma herança comum a todos, e cada ser humano tem o direito de desfrutar e utilizar todos os recursos mundanos, supramundanos e espirituais. Mas mesmo que todo mundo tenha o direito individual de desfrutar de tudo, não é certo que todo mundo tenha o direito individual de participar da administração de um país. Para o benefício e o bem-estar das pessoas em geral, não é adequado que a obrigação de administrar fique nas mãos de todos. Suponha que um certo casal tenha cinco filhos. Todos eles são felizes e estão confortáveis ​​na família. Mas se as crianças, sob argumento de que constituem a maioria, de repente reivindicarem plena autoridade e o direito de gestão da família, seria isso viável? Digamos que eles convoquem uma reunião e aprovem que todos os copos e louças serão quebrados. Podemos chamar a isso de uma resolução sábia? Deixe-me dar outro exemplo. Os estudantes estão sempre em maioria em comparação com os professores. Agora, se os alunos, sob o argumento de que são a maioria, exigirem que eles mesmos elaborem as provas e sejam os examinadores, isso seria viável? Então, você pode ver, a democracia não é um sistema muito bom e simples. Mas a menos que uma alternativa, uma teoria ou sistema melhor e mais ajustável seja desenvolvido, teremos que aceitar a democracia como o melhor entre os outros sistemas, e fazer uso dele para o presente momento.

data desconhecida


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