quarta-feira, 2 de março de 2011

Revolução popular na Islândia

“Se se recusarem a pagar a dívida, provavelmente teremos que rebaixar a classificação da Islandia a BA1 ou menos.” -Comunicado da agência  Moody’s-

[Isaac Rosa - Público] As revoluções são sempre muito fotogênicas, e agora inclusive são retransmitidas ao vivo. Aí está o caso do Egito, cuja luta contra Mubarak vimos em tempo real, com dezenas de correspondentes em campo, e o mesmo aconteceria na Líbia se Gadafi permitisse a entrada de jornalistas.

Mas as revoluções ficam bem na TV quando são violentas. Se não há manifestações tumultuosas, barricadas ardendo, pedradas e gente con a cabeça ferida, não há muito o que se ver. Deve ser por isto que não há correspondentes na Islândia, e até o momento nenhum telejornal diário se conectou ao vivo com as ruas de Reikiavik, nem há nos jornais infografías diarias sobre este pequeno país do norte da Europa.

Dizer “revolução pacífica” soa a oxímoro, e muita gente dirá que não é possível, que é outra coisa. Mas os islandeses estão protagonizando o que há de mais parecido com uma revolução, já visto nesta parte do mundo em muito tempo, e por aqui mal nos damos conta. Com certeza, isto se deve às revoltas árabes midiáticas não oferecerem risco de contágio na Europa, enquanto a mobilização islandesa pode nos dar ideias perigosas.

Depois que a economia da Islândia, a menina dos olhos do neoliberalismo, se afundou em 2008, com bancos falidos e uma dívida impossível de honrar, os pouco mais de 300.000 habitantes dessa ilha nórdica saíram às ruas e as ocuparam. E não pararam até hoje.

Entre outras coisas, conseguiram que o governo renunciasse, nacionalizar o sistema bancário, perseguir penalmente os banqueiros responsáveis, rechaçar em referendo o pagamento da dívida dos bancos, e agora estão participando da elaboração de uma nova constituição mais democrática e social. E como se fosse pouca coisa, aprovaram uma iniciativa no sentido de converter o país em um refúgio internacional para a liberdade de imprensa, onde o próximo Julian Assange possa trabalhar sem que o encarcerem nem que lhe fechem o site.

Sim, é verdade que a Espanha e a Islândia não têm muito em comum. É um país pequeno, isolado, com peculiaridades econômicas. Mas depois de tanto dizermo-nos que não somos a Grécia nem a Irlanda, dá vontade de ser Islândia por um momento.

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