quarta-feira, 29 de abril de 2009

Democratizando as finanças

Por Hazel Henderson*

St. Augustine, Flórida, abril/2009 – A crise financeira, gerada por Wall Street e pela cultura do “muito grandes para quebrar” dos bancos e das instituições financeiras baseadas no dinheiro, está gerando iniciativas locais e chamados para descentralizar e democratizar as finanças. Enquanto as redes nacionais de segurança estão se desfazendo devido aos cortes orçamentários, as lideranças locais crescem e oferecem alternativas criativas para que as comunidades possam nutrir suas próprias economias.
Os clubes ou associações locais de troca, como Freecycle.com, Craigslist e Lets, e os vales como papel-moeda alternativo estão proliferando, como sempre o fazem quando os banqueiros centrais e o Fundo Monetário Internacional fracassam ou aplicam remédios equivocados. Algumas das moedas complementares de maior êxito são a WIR, da Suíça, e a norte-americana Berkshares, que tem o equivalente a US$ 2 milhões em circulação e aceitação em bancos e negócios de Massachussets. Moedas semelhantes estão servindo a mercados locais de compensação no Brasil, Canadá, Grã-Bretanha, Argentina, Austrália e em outros países.Os empréstimos de pessoa para pessoa e os projetos de microfinanciamento estão no auge em muitos países. Womens World Banking, Grameen Bank, em Bangladesh, agora imitado em muitas nações, Finca e Acción, na América Latina, bem como novas versões on line, incluindo Microplace, Kiva e além de prestamistas como Prosper.com, nos Estados Unidos, e Zopa.com, na Grã-Bretanha, são exemplos. Bancos cooperativos de crédito, que operam na Europa e na América do Norte há um século estão se tornando mais ativos ainda.
As associações de bancos e comércios locais estão exercendo uma influência política maior. Nos Estados Unidos, estas associações estão reclamando igual tratamento na destinação dos multimilionários fundos governamentais disponíveis para o resgate financeiro das empresas em bancarrota, que choveram sobre os grandes bancos, cujos imprudentes empréstimos desencadearam o desastre financeiro.
Fundações como Rudolf Steiner Foundation, Acumen e a dos credores do Ebay, Pierre Omidyar e Jeffrey Skoll, estão investindo em empresas sociais que atendem necessidades sociais enquanto obtêm ganhos modestos. Tal capital social agora está criando um novo setor híbrido em muitas economias. No Reino Unido, a New Economics Foundation (NEF) gera iniciativas locais e sua proposta para salvar as 11.500 agências de correio britânicas com a agregação de funções bancárias locais é apoiada pelos sindicatos, pelos pequenos comerciantes, pelos grupos de interesse público e pelos aposentados.
Time Bank, uma criação de Edgar Cahn, nos Estados Unidos, que facilita o intercâmbio cooperativo de bens e serviços, agora ajuda as pessoas locais a se conectar e compartilhar serviços no Japão, na Europa e em países de outros continentes. Os serviços incluem ajuda a inválidos confinados em suas casas, cuidado de filhos de vizinhos, vigilância das propriedades, corte de grama e compartilhamento de aparelhos eletrodomésticos. Da modalidade de compartilhar o carro entre vizinhos ocupam-se novas companhias, como Zip Car, nos Estados Unidos, e outras no Canadá e na Europa.
A China é anfitriã de muitas iniciativas locais, como a que conecta pequenos comerciantes em redes que oferecem empréstimos acessíveis a 25 milhões de estudantes chineses. A Circle Pleasure, uma empresa que vende cartões de consumo pré-pagos, formou uma companhia conjunta com a Quifang para um serviço bancário de pessoa a pessoa. Esta é a primeira empresa privada que recebe uma licença do Banco Central da China. Em muitos lugares da Índia e de Bangladesh, as “damas do telefone” alugam o uso de seus telefones celulares para outras aldeias. Os camponeses e os pescadores podem, por esse meio, consultar os preços nos mercados vizinhos para saber os melhores lugares onde vender suas mercadorias.
Todas estas soluções locais provocam uma pergunta: como permitimos aos grandes bancos e ao setor financeiro centralizado se converterem em predadores das economias reais que produzem a verdadeira riqueza mundial? Em todo o mundo, as pessoas estão se dando conta de que simplesmente podem evitar os grandes bancos e as bolsas de valores e criar localmente serviços de crédito e de outros tipos. Os velhos e excessivamente inflados setores financeiros devem diminuir, baixar seus lucros e absorver as perdas de suas temerárias apostas. Um setor de serviços financeiros realmente eficiente deve ter menos de 10% do PIB nacional, enquanto, por exemplo, no Reino Unido superou os 20%, “sofrendo uma metástase” graças aos seus “engenheiros financeiros” que sugam a economia real.
Quanto mais longe puderem ir as finanças de pessoa a pessoa mais se evitará os e grandes bancos cheios de cobiça e se desafiará eticamente os financistas de Wall Street e seus aliados políticos. É um caminho longo, mas pode ser percorrido graças a todas as ferramentas das comunicações, agora amplamente disponíveis. IPS/Envolverde

(*) A economista Hazel Henderson (www.ethicalmarkets.com) é autora de Ethical Markets: Growing the Green Economy (2007) e coautora do índice sobre qualidade de vida Clavert-Henderson (www.calvert-henderson.com).

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