sexta-feira, 27 de junho de 2008

Inauguração do PRIV em Caracas

Discurso de Inauguração da sede do Instituto de Pesquisas de PROUT da Venezuela

No sábado, 21 de Junho de 2008 (Solsticio de Verão) a nova sede do Instituto de Pesquisas de PROUT da Venezuela foi oficialmente inaugurada. Uma imensa casa com lindos jardins em uma agradável vizinhança residencial em Caracas, que foi doada para nosso uso para sempre. Perto de 100 pessoas estiveram presentes, incluindo oficiais do governo, vizinhos, Margiis e amigos. O evento de 5 horas incluiu meditação coletiva, breves palestras de cada um dos membros do Comitê, vestindo suas camisetas do PRIV [Prout Research Institute of Venezuela], a apresentação do nosso documentário de meia hora feito para a televisão da Venezuela, "Uma outra vida é possível: Cooperativas em Barlovento, Venezuela", e uma abundância de comidas vegetarianas muito deliciosas.

Nós pedimos ao Dr. Carlos Molina Camacho, um dos mais respeitados professores sêniores de cooperativas na Venezuela, para fazer o discurso principal. Ele foi anteriormente superintendente do Departamento Nacional de Cooperativas da Venezuela (SUNACOOP), é professor graduado de Legislação Cooperativa na mais antiga e maior universidade do país, Universidade Central da Venezuela, e é autor de vários livros sobre cooperativismo. Francamente, nós ficamos espantados com o que ele disse.

Dada Maheshvarananda

* Esta é a tradução em português de sua palestra (o texto original em espanhol está no website http://www.priven.org/).

Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer aos diretores desta respeitável fundação, o Instituto de Pesquisas de PROUT da Venezuela, e especialmente ao seu presidente, José Albarran, e ao diretor, Dada Maheshvarananda, pelo amável convite feito à minha esposa Clarita e a mim, para participarmos nesta ocasião tão importante a todos que desejamos o maior dos sucessos de PROUT, como é a inauguração da nova sede em Caracas ....

Nestes momentos nós não podemos deixar de lembrar do fundador de PROUT, o grande mestre espiritual indiano Prabhat Ranjan Sarkar, o qual, segundo Dada Maheshvarananda, em seu magnificente livro "Após o Capitalismo", disse o seguinte em uma ocasião na qual visitou nosso país, que, certamente, foi o único país latino-americano que visitou durante sua longa e frutífera vida:
"A Venezuela necessita de bons líderes político-espirituais. Se a Venezuela puder produzir bons líderes político-espirituais, ela não será apenas líder da América Latina, mas também o líder do planeta. A Venezuela é um país abençoado. Meus filhos e filhas, é dever de vocês acelerar o processo de criação de líderes político-espirituais. Depende de vocês."

Nós que temos nos dedicado durante muitos anos ao trabalho de promoção cooperativista nesta pátria de [Simon] Bolívar, não podemos menos que admirar o quão visionário foi o mestre Prabhat Ranjan Sarkar, quando em suas profundas meditações teve a intuição de que o sistema cooperativo da economia era o que melhor conciliava, dentre os sistemas sócio-econômicos conhecidos, a saber, o capitalismo e o socialismo estatal ou burocrático, a justiça social com a liberdade.
Este guia espiritual sublime observou que no capitalismo o princípio que o governa é o lucro, o desejo de ganhar dinheiro a qualquer preço, ignorando os direitos mais elementares dos trabalhadores, consumidores e usuários, porque em suas empresas de produção de bens ou serviços, aqueles que contribuem com o que é mais significativa dos seres humanos, quer dizer, seu trabalho manual e intelectual, não têm nenhuma participação na administração dessas empresas, já que só aqueles que contribuem com o capital são os que as dirigem e, além disso, recebem os maiores lucros. Em geral os salários recebidos pelos trabalhadores são baixos e muitas vezes apenas bastam para cobrir as necessidades mais básicas do trabalhador e sua família.



No que se refere às empresas capitalistas de distribuição de bens ou serviços, os denominados comerciantes, elas não são outra coisa que intermediárias entre aqueles que produzem e aqueles que consomem. Sua finalidade é a de obter o maior lucro, mesmo que às custas de sacrificio da qualidade dos produtos que repassam, e em não poucas ocasiões há enganação, fraude, quando se fixam os preços de seus artigos, cobrando por eles muitíssimo mais do que na realidade custa a sua distribuição.
E toda essa exploração acontece porque os consumidores não estão organizados economicamente em cooperativas, que são as únicas que poderiam resguardá-los dessa vassalagem, pois tais cooperativas não têm nenhuma finalidade de lucro e apenas buscam colocar ao alcance de seus associados os bens e serviços que eles precisam, a preços justos e com alta qualidade.

Mas Prabhat Ranjan Sarkar também nos avisou sabiamente que o socialismo estatal, burocrático, no qual praticamente todas as empresas, tanto as de produção quanto distribuição de bens ou serviços, pertencem ao grande proprietário, que é o Estado, tampouco foi capaz de implementar uma democracia econômica autêntica, porque nem os trabalhadores, nem os consumidores ou usuários participavam apropriadamente da administração das empresas, sendo aqueles que nelas trabalham simples assalariados do grande patrão que é o Estado. Tudo isso sem dizer que esses regimes também ignoram os mais elementares direitos humanos. Ali imperou a intolerância, o sectarismo e a discriminação.
Felizmente esses dois últimos sistemas sócio-econômico-políticos estão desaparecendo da face do planeta. Revelou-se a ineficiência deles do ponto-de-vista econômico, e a sua iniquidade a partir da ótica política.
Por isso, queridos irmãos e irmãs, abre-se hoje em dia um amplo horizonte para a expansão daquele que é chamado com correção de socialismo cooperativo, que não é outra coisa do que a implementação da democracia econômica. A democracia política tem sido muito bem sucedida no mundo, mas na verdade não é suficiente. É necessaria a participação dos trabalhadores, consumidores e usuários no universo econômico, tanto nas empresas de produção como de distribuição de bens e serviços.
Assim se edificaria uma economia a serviço da humanidade e não do capital, como ocorre no capitalismo. Sistema este que estendeu seus tentáculos sobre todo o planeta por meio das grandes [corporações] transnacionais que não respeitam o meio ambiente, cometendo grandes crime ecológicos que ameaçam o próprio futuro da humanidade. São crimes imperdoáveis.

Somos uma única família planetária, recorda-nos Prabhat Ranjan Sarkar, sem distinção de raças, religiões, crenças políticas, gêneros.
Como então não iremos admirar a extraordinária capacidade visionária do fundador de PROUT, Prabhat Ranjan Sarkar, quando foi já em 1989 que ocorreu a queda do muro de Berlim, e com essa queda também veio abaixo o sistema sócio-econômico-político que prevalecia em grande parte da Europa oriental?
Este eminente orientador espiritual da humanidade faleceu um ano depois da queda do muro de Berlim, ou seja, no ano de 1990.
A América-Latina está procurando seu caminho para o desenvolvimento, assim como os países africanos e asiáticos. É a oportunidade de ouro para o cooperativismo. Talvez seja por isso que homens como o Dada Maheshvarananda, que deu grandes contribuições no Brasil, encontra-se agora trabalhando, para alegria dos venezuelanos, na terra de Bolívar. Devemos aproveitar essa missão do Dada e de outros irmãos e irmãs de PROUT, para implementar o sitema de cooperativas nesta pátria amada da Venezuela.
Mas há outra característica da missão que o fundador de PROUT, Prabhat Ranjan Sarkar, veio cumprir neste planeta, e que tem a ver com o desenvolvimento espiritual da humanidade. Esse novo sistema sócio-econômico do cooperativismo requer um novo ser humano, sem o qual é muito dificil que sua implementação tenha sucesso. Esse novo ser humano pode ser forjado com a ajuda que lhe seria dada pela meditação, para dominar as suas paixões, seus instintos agressivos (por acaso não viemos do reino animal?), suas emoções negativas profundamente enraizadas, seu egoísmo selvagem.
O propósito da meditação é nada menos do que descobrir esse Deus que está dentro de nós. Nas palavras de Prabhat Ranjan Sarkar, "O propósito da existência humana, da evolução e da própria vida, é de percebermos a Consciência Infinita dentro de nós". Entendamos por Consciência Infinita o que costumamos chamar de Deus.
Dada Maheshvarananda, no seu bem-escrito trabalho já mencionado (página 72), nos fala dos beneficios da meditação para o ser humano:

"A meditação nos proporciona muitos benefícios pessoais como a superação da raiva e da agressividade, o cultivo da vontade e do auto-controle, o melhoramento da auto-estima e da saúde mental, o incremento da concentração e da memória, a cura da insônia, da depressão e dos sentimentos de solidão, a eliminação dos complexos de inferioridade e de superioridade, de medo e de culpa, além de que acalma a mente, expande o entendimento e a tolerância, desenvolve uma personalidade equilibrada e integral, desperte em nós a sabedoria, o amor e a compaixão."
Quando tomamos consciência de que a humanidade é uma só, que somos todos membros da mesma família, que as alegrias de uns são a alegria de todos, e do mesmo modo as tristezas. Que o mal que fazemos a outros fazemos também a nós mesmos. Quando percebemos esta realidade, esta verdade, é muito mais fácil construir esse socialismo cooperativo.
É por isso que devemos trabalhar em duas frentes ao mesmo tempo: na sócio-econômica e na espiritual, se queremos alcançar o sucesso.
Não há dúvida que esta visão espiritual de Prabhat Ranjan Sarkar, que também é a visão da doutrina advaita, nascida há muitos séculos na Índia, que proclama o não-dualismo, oferece-nos a possibilidade de crer em um Deus como Energia Universal que tudo cria, que permeia a tudo, que mantém a tudo.
Esta não é a visão de Deus separado da humanidade. Um deus que está na calçada oposta à do ser humano. Não, esta é a crença de que o ser humano é a expressão perfeita de Deus, do mesmo modo como a borboleta é expressão perfeita de Deus ou uma flor e tudo que existe no planeta são expressões perfeitas de Deus.
A maior tragédia do ser humano, de acordo com Prabhat Ranjan Sarkar, é que a causa de seu sofrimento indescritível é crer-se separado de Deus, ver a este como alguém fora dele, no plano de observador e castigador de suas falhas. Prabhat Ranjan Sarkar nos propõe uma revolução espiritual completa. A meditação, essa técnica através da qual aquietamos nossa mente, silenciamos nossos pensamentos de "eu" e "meu", é o ponto inicial dessa grande transformação pessoal. É a isso que nossos irmãos e irmãs de PROUT nos convidam, movidos pelo amor aos demais. Aceitemos com alegria esse convite cordial.
Prabhat Ranjan Sarkar nos lembra que "o Criador não está separado da criação, mas está presente e ressoa em cada partícula dela". O mundo, ele nos diz, não precisa apenas de novas estruturas sociais e econômicas que sejam justas e democráticas, mas também precisa de pessoas que sejam melhores, com mais força e menos egoísmo.
Para concluir, todos nós aqui presentes desejamos que nesta nova sede vocês, irmãos e irmãs de PROUT, recebam as mais lúcidas inspirações, as mais nobres idéias, os melhores pensamentos, para que continuem tendo sucesso em sua missão pelo cooperativismo e pelo desenvolvimento espiritual do ser humano.

Obrigado a todos,
Dr. Carlos Mollina Camacho

Tradução : Udaya - PROUT - SP
Revisão : Mahesh

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